O que é Gnose
"O que é gnose?" pergunta-se o gnóstico, sem sequer saber que já pratica a sua arte no exato momento em que faz esse questionamento.
ESPIRITUALIDADEESOTERISMO
Sofia Post
9/17/20244 min read


“O que é gnose?” pergunta-se o gnóstico, sem sequer saber que já pratica a sua arte no exato momento em que faz esse questionamento. O simples fato de que você faz essa pergunta já remonta a um arquétipo prometeico/luciferiano de desafio à autoridade e de quebra de paradigmas ou dogmas. O que você sabe ou que acha que sabe não pode ser o suficiente, então você precisa de algo a mais, algo para além deste mundo de ilusões… Essas ilusões que a matéria, tão feminina e atraente, tenta mostrar para você, de modo a te prender no seu abraço delicioso e inebriante. Não, nós não nos contentamos com isso…
Liberdade! É isso o que queremos! Liberação da culpa, dos excessos, dos vícios, do bem e do mal. Liberdade de Ser com “s” maiúsculo. A plena potência do homem, que já não se satisfaz com aquelas velhas e perversas histórias que nos contam os padres e pastores, ou qualquer autoridade autoproclamada. Não, nós não reconhecemos mais essas autoridades. Nós somos quem somos e somos como deuses.
Isso tudo são palavras de inspiração, e eu não posso resistir em escrever sobre a temática gnóstica sem começar com um apelo à liberdade e ao heroísmo, dois preceitos muito importantes para todo gnóstico e que eu particularmente tenho como pilares da personalidade. Não me entendam mal, sei que existem autoridades legítimas no mundo, assim como também sei dar o devido respeito à hierarquia inerente aos seres humanos, que são seres fundamentalmente sociais. O problema mesmo é que essas autoridades que surgem na nossa atual era são em maioria depravadas e incompetentes, vampíricas, sanguessugas; e é papel de qualquer gnóstico reconhecer o tempo no qual ele está inserido, trabalhando com o material que possui em mãos e sabendo dar nome aos bois (no caso, aos vampiros).
Foi assim que fizeram os célebres cientistas tidos como bruxos pela Igreja Católica nos tempos medievais. Realizavam suas pesquisas e experimentos no oculto dos seus laboratórios, na surdina da madrugada, quando os padres estavam ocupados demais rezando ou dormindo (ou fazendo alguma outra coisa…).
Instituições como a Igreja Católica já foram, um dia, grandes empecilhos para o pleno exercício do pensamento humano e da sua busca pela verdade. Há um caráter saturnino e vampírico nesse tipo de instituição, composta majoritariamente por homens velhos e estéreis, que dedicam suas vidas a penitências e a expiação de pecados ─ motivos bem ridículos para se viver.
Os gnósticos da época, no entanto, foram aqueles poucos corajosos que perceberam a estupidez desse sistema. Muitos foram censurados e perseguidos pelos seus ideais, outros foram torturados, outros foram mortos. Situações tais que remetem aos antigos mitos do Prometeu que fora castigado por capturar o fogo do Olimpo, ou Lúcifer que ousou se rebelar contra Deus (sempre histórias em que o jovem rebelde é repreendido pela autoridade anciã, Júpiter contra Saturno).
O gnóstico é aquele que não se submete a nada. Quem não responde por nada, além de si mesmo. A disposição do guerreiro em não se permitir ser subjugado por mais ninguém. O desafio. A ousadia.
Sabedoria. Verdade. Knowledge. Gnose.
As semelhanças semânticas devem ser sempre observadas, pois nas palavras se escondem segredos iniciáticos. Por esse motivo sempre foi importante o contato entre o espírito guerreiro e o espírito poético, pois na junção entre esses dois mundos se encontra a sabedoria, a real sabedoria, the gnostic wisdom.
Gnose é o simples exercício do saber e de ousar saber. É a visão de que há algo mais na realidade que transcende a matéria, uma realidade que se esconde das massas e dos profanos ─ aqueles que não possuem o que é necessário para compreender. Gnose é uma inspiração divina que surge no espírito humano, um fogo que queima o coração do homem e que nunca se apaga.
Para aqueles que possuem uma disposição menos poética e mais pragmática, pode-se compreender a gnose como um terceiro olho, um sexto sentido, uma percepção mais aguçada do mundo ao seu redor. Sem ilusões, sem rodeios nem mentiras, somente o que pode ser observado de fato ─ algo bem parecido com o próprio método científico. Observação antes de uma conclusão. Ver para crer. Nada de apenas acreditar no que os velhos dizem, mas ter a experiência.
Homens como Isaac Newton, Aristóteles, Heráclito e Nietzsche foram grandes gnósticos, não porque eles acreditavam nas coisas que diziam, mas porque eles sabiam que se tratava da verdade. Teoria aliada à experiência, a verdadeira disposição de todo gnóstico ─ simplesmente de qualquer um que ame a verdade.
É essa mentalidade que está por trás das célebres palavras ditas por Carl Jung quando questionado sobre sua crença em Deus: “I don’t need to believe, I know.”
A qual “Deus” exatamente Jung se referia já é um outro assunto (talvez para um outro artigo, quem sabe). O que mais importa, realmente, é absorver a ideia das suas palavras.
Não é sobre acreditar. Nunca foi sobre acreditar. É sobre saber.
Do you see now?